Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024
76 A importância do diagnóstico diferencial entre dengue e febre maculosa: relato de caso Luiz José de Souza et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.74-79, jan-abr 2024 em seu corpo há cerca de 10 dias, em região proximal de membro inferior direito, e que esta não foi a primeira ocasião de contato com carrapato, porém primeira vez que desenvolve sintomas. Refere, ainda, que próximo ao seu local de pesca há presença frequente de cavalos e capivaras. A conduta imediata envolve prescrição de doxiciclina 100mg duas vezes ao dia por 7 dias, coleta de exames laboratoriais para diagnósticos diferenciais, prescrição de sintomáticos e orientações quanto aos sinais de alarme. No dia seguinte, quinto dia de sinto- mas, paciente retorna para nova avaliação, apresentando inapetência, piora da mialgia e diarreia. Durante a avaliação, estava hi- potenso. Os exames laboratoriais realizados no dia anterior evidenciavam leucócitos de 5.500 com predomínio de 84% de segmen- tados e 8% de bastonetes, hemoglobina de 12,6g/dL, hematócrito 37,8%, plaquetas de 84.000, aspartato aminotransferase (AST) de 81 U/L, alanina aminotransferase (ALT) de 60 U/L e dengue antígeno NS-1 não reagente. Optou-se então por realizar hi- dratação venosa e sintomáticos, e por não haver melhora após expansão foi realizada a internação hospitalar do paciente. Em novo exame laboratorial colhido durante a internação hospitalar, foi evi- denciado, além das alterações anteriores, azotemia associada a acidose metabólica com ânion gap elevado. Clinicamente, o paciente iniciava sinais de insuficiência respiratória, sendo então prontamente solicitada vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o paciente transferido, onde permaneceu por 12 dias. Durante o nono dia de sintomas foram colhidas sorologias para dengue, com re- sultado não reagente. No décimo dia de sintomas foram colhidas sorologias para leptospirose e febre maculosa, cujos resul- tados foram: leptospirose IgMnão reagente, leptospirose IgG não reagente, anticorpos anti- Rickettsia rickettsii IgM reagente com título 1/64, anticorpos anti- Rickettsia ric- kettsii IgG reagente com título 1/128. Também foram solicitadas sorologias para chikungunya, todas com resultado ne- gativo. O paciente evoluiu satisfatoriamente e, após 14 dias de internação hospitalar, ob- teve condições de alta, retornando ao CRDI para nova coleta de sorologia para parear. DISCUSSÃO A febre maculosa é uma doença causada por bactérias do gênero Rickettsia , sendo a mais patogênica a espécie Rickettsia rickettsii , um bacilo Gram-negativo intra- celular obrigatório. Após sua inoculação no corpo humano, em cerca de 10 dias os pacientes irão se apresentar com sintomas sistêmicos que a princípio são inespecífi- cos e indiferenciáveis de outras doenças febris tropicais e endêmicas. Vale destacar que fatores como deficiência de glicose- -6-fosfato desidrogenase, alcoolismo, idade avançada e uso recente de sulfonamidas foram correlacionados com uma maior gravidade da febre maculosa.
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