Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

83 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.80-87, jan-abr 2024 Bastão de Asclépio ou Caduceu de Hermes – Qual é o verdadeiro símbolo da Medicina? Antônio Braga, Jorge Rezende-Filho Entretanto, a saga de Asclépio já fora prevista pela vidente Ocirroé – filha de Quíron, ainda na tenra infância: "Menino, tu que trazes a saúde para todo o mundo, que possas crescer e florescer! Os mortais muitas vezes deverão suas vidas a ti, e te será concedido o poder de trazer de novo à vida os que morreram. Mas um dia deixarás os deuses zangados por tamanha ousadia, e o raio de teu avô impedirá que o repitas, e de um deus imortal serás reduzido a um cadáver inerte. Mas depois deste cadáver mais uma vez serás tornado um deus, e por uma segunda vez renovarás o teu destino". (6) Após ser morto por Zeus, Asclépio foi elevado aos céus como a constelação de Ofiúcio (entre Sagitário e Libra), que sig- nifica o portador da serpente, o Serpentário (Figura 5), imortalizando sua história. Já o caduceu de Hermes é representado por um bastão em torno do qual se entrela- çam duas serpentes. Também é um emble- ma pré-helênico, já visualizado na taça do rei sumeriano Gudea de Lagash, em 2600 a.C. A serpente da direita é chamada Od, que representa a “vida livremente dirigida” (livre arbítrio), a da esquerda Ob, que se relaciona à “vida fatal” (destino) e o globo dourado no cimo, Aur, que representa a “luz equilibrada” (equilíbrio). (7) Estas duas serpentes opostas figuram forças contrá- rias que podem se associar mas não se confundir. O caduceu ganha asas em sua parte superior já na tradição grega, em uma clara alusão à figura de Hermes e suas habilidades de ligeiro mensageiro, (8) como pode ser visto na Figura 6. Não há, portanto, nenhuma relação entre o caduceu de Hermes e aMedicina. Ora, mas como desde a Renascença frequentemente ele é referido como símbolo daMedicina? (9,10) A confusão foi esclarecida de modo magistral pelo Professor Joffre Marcondes de Rezende, um dos arautos da Sociedade Brasileira de História da Medicina e dos maiores filologistas brasileiros. (11) Dr. Jof- fre apresenta-nos quatro grandes pilares que permitiram que esses símbolos fossem confundidos. O primeiro deles diz respeito à equivo- cada assimilação de Hermes pela mitologia egípcia, como o deus Thoth – devotado ao conhecimento e à magia. (12) Thoth passa a ser chamado de Hermes Trismegistos (três vezes grande), ainda que, mesmo na Figura 5 Representação mitológica das constelações. Em pormenor, pode-se observar o Serpentário, adornado por Asclépio.

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